quarta-feira, 1 de abril de 2009

VOCÊ SABE QUEM FOI CAMILLE FLAMARION? PARTE 1





FLAMMARION: UM ASTRÔNOMO DIANTE DO MUNDO DOS ESPÍRITOS


"O corpo passa. A alma vive no infinito e na eternidade."
(FLAMMARION, 1923)

Introdução
Dos ilustres freqüentadores da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, contemporâneos a Kardec, o mais polêmico é o jovem astrônomo Camille Flammarion.
Sua obra e suas convicções influenciaram a geração que sucedeu ao codificador, na França e no Brasil, e tornaram-se a base da Metapsíquica nascente.
As obras sobre a vida de Flammarion são raras. Na nossa língua encontramos pequenas biografias de poucas páginas, há algumas resenhas sobre seus livros de temática espírita na "Revue Spirite" publicada por Allan Kardec, seu discurso no túmulo de Allan Kardec, publicado pela FEB em "Obras Póstumas" e os dados biográficos inseridos nos três livros "Allan Kardec" de Zêus Wantuil. As principais fontes deste trabalho, entretanto, devemos à gentileza de Alexandre Rocha, e são o livro autobiográfico "Memórias Biográficas e Filosóficas de um Astrônomo", escrito no início do século XX, onde Flammarion relata sua infância, seu contato com o Espiritismo, suas atividades e produção relativas à astronomia. Outro documento também relevante foi um fragmento de um discurso pronunciado por Flammarion em 1923, na British Society for Psychical Research.

Infância
Nicolas Camille Flammarion foi o filho primogênito de um casal de comerciantes de tapeçarias que viviam em Montigni-Le-Roi, região leste da França. Veio à luz aos vinte e seis dias de fevereiro de 1842.
Desde o nascimento os pais (especialmente a mãe) lhe reservaram um "destino intelectual". A mãe não deixava que o pequeno Nicolas brincasse com as crianças do povo. Aos quatro anos ele lia, aos quatro anos e meio escrevia, aos cinco anos iniciava os estudos de gramática e aritmética e aos seis iniciava-se na escola, onde escrevia com penas de pato.
Os pais de Flammarion tiveram mais três filhos, Berthe Martin, Ernest e Marie Valliant. Ernest Flammarion tornou-se dono de uma livraria e editora que publicou (e ainda publica) algumas das obras do irmão. A família parece ter-se envolvido no projeto dos pais, visto que no centenário da
publicação do seu laureado "Astronomia Popular", a editora de Ernest Flammarion lançou a público uma edição comemorativa.

Etienne-Jules, pai de Flammarion, era cético em assuntos de religião, mãe, Françoise Lomou era católica praticante e levava os filhos todos os domingos à igreja. Ela acreditava que o filho pudesse se dedicar à vida eclesiástica. Certa feita, Etienne Jules trouxe a seu filho um livro de Cosmografia que o pequeno copiou, especialmente os sistemas de Ptolomeu, Copérnico e Tycho-Brahe.
Aos nove anos de idade, Flammarion iniciou seus estudos de latim. Realizou seus estudos clássicos na cidade de Langres, em uma escola católica que foi responsável por seus sólidos conhecimentos em humanidades.
Após uma epidemia de cólera, seus pais passaram dificuldades financeiras e foram para Paris. Flammarion mudou-se em setembro de 1856.
Para se manter ele trabalhou como auxiliar de gravador e passou a estudar na Associação Politécnica de Paris em cursos gratuitos, onde aprendeu melhor as matemáticas que eram pouco enfatizadas no seu curso clássico. Ele trabalhava cerva de 15 a 16 horas diariamente. Aos domingos Flammarion estudava as disciplinas que despertavam seu interesse, como a frenologia, a fisiognomia e os sistemas de Laváter, Gall e Spurzheim.
Seu interesse pelos livros veio desde os tenros anos da infância. Aos oito anos Flammarion já possuía uma biblioteca de 50 volumes.

Flammarion - Astrônomo
Aos 15 anos Flammarion escreveu um livro de cerca de 500 páginas, que ele próprio ilustrou com 150 desenhos, intitulado "Cosmogonia universal: estudo do mundo primitivo". Este trabalho seria publicado mais tarde com o título: "O mundo antes da aparição do homem."
Com este livro em mãos, o jovem ganhou coragem e apresentou-se no Observatório de Paris, à época dirigido por Le Verrier, o astrônomo que houvera descoberto Netuno sem instrumentos, apenas usando cálculo. Após ser entrevistado e avaliado foi aceito como aluno-astrônomo.
Não nos deteremos em sua carreira de astrônomo, já que temos por objetivo focalizar sua trajetória e pensamento espíritas. Algumas informações, entretanto, se fazem úteis para que se avalie suas realizações profissionais.
Entre os tipos de atividades que realizou, Flammarion mediu estrelas duplas e realizou cálculo de suas órbitas, estudou a direção das correntes aéreas, fez estudos higrométricos do ar, analisou a rotação de corpos celestes, confeccionou mapas de Marte e escreveu trabalhos sobre a constituição física da Lua.
Analisemos suas publicações científicas e jornalísticas. Seu primeiro livro publicado foi "Pluralidade dos Mundos Habitados" (1861), seguido-se "Viagem extática às regiões lunares", "Os mundos imaginários e os mundos reais" (1865), "As maravilhas celestes" (obra popular de divulgação da astronomia), "Estudos e leituras sobre astronomia" (1867), "Viagens aéreas" (1867), "Galerie Astronomique" (1867), "Contemplações científicas" (coletânea de escritos publicados nas revistas "Siècle", "Magasin pittoresque" e "Cosmos" - 1870), "A atmosfera" (1871), "Astronomia Popular" (1880), "O mundo antes da criação do homem" (1885), "Os cometas, as estrelas e os planetas" (1886), "Astronomia para amadores" (1904) e "Raio e trovão" (1906).
Em "Pluralidade dos Mundos Habitados" trata do sistema solar, realiza um estudo comparativo dos planetas, discute a fisiologia dos seres a fim de abordar a questão da habitabilidade, trata de habitantes de outros mundos e da pluralidade dos mundos ante o dogma cristão. Kardec resenha
este livro na Revista Espírita, ressalvando que apesar de não se tratar de livro espírita, trata de assunto que envolve uma temática tratada pelos espíritos e de um autor que então era membro da Sociedade Espírita de Paris.
São muitas as revistas que receberam suas contribuições. Em Junho de 1863, tornou-se redator científico da revista "Cosmos", contribui nas revistas "Siècle", "Magasin Pittoresque" e funda, em 1882, a revista "L’Astronomie". Esta última revista continua sendo editada até os dias de hoje O Observatório de Juvisy foi fundado por Flammarion em 1883, onde passou a realizar seus trabalhos nas áreas de astronomia, climatologia e meteorologia. Ele é visto pelos astrônomos contemporâneos como um astrônomo amador que realizou um trabalho de vulgarização da astronomia (no seu sentido de divulgação, e não no pejorativo de banalização).2 Esta qualificação possivelmente se deve ao fato de ele não fazer parte de nenhuma academia ou centro de pesquisa oficial, mas, certamente, não se pode qualificá-lo de amador por não publicar seus trabalhos regularmente em periódicos científicos.
Quatro anos depois, ele tornou-se o fundador da Sociedade Astronômica da França (Société Astronomique de France), com o objetivo de "difundir as Ciências do Universo e fazer os amadores participarem do seu progresso", que continua vigente até os dias de hoje. Entre outras honrarias e prêmios, a Sociedade concede anualmente a "Plaquette du centenaire de Camille Flammarion", que é uma medalha de prata e o prêmio "Gabrielle et Camille Flammarion" para trabalhos e pesquisadores que se destacam.
A Academia Francesa concedeu a Flammarion o prêmio Montyon, em 1880, por seu livro "Astronomia Popular". Este foi um entre muitos. Nas suas memórias, o astrônomo enumera o prêmio "Ruban Violet" de oficial da instrução pública, a Grande Ordem da Cruz de Isabella Católica e a "Cruz da Grande Ordem de Carlos III", oferecidos pelo governo espanhol. D. Pedro II, imperador do Brasil, foi pessoalmente ao observatório de Juvisy entregar-lhe a comenda da "Ordem da Rosa" e Flammarion recebeu das mãos do rei e da rainha da Romênia o título de "Grande Oficial da Estrela da Romênia". Os títulos e honrarias parecem estender-se bastante, e são entendidos pelo beneficiário como marcos de estima e nunca como pagamentos de préstimos
políticos.